Por muito
tempo a AIDS foi uma doença que apresentou altíssima taxa de mortalidade,
decorrente da ausência de um tratamento específico e medicamentos eficazes, um
desconhecimento do que realmente era a doença, da rápida evolução das doenças
oportunistas, que não davam tempo para a equipe médica resolver ou mesmo,
amenizar os sintomas. Em decorrência desses fatores e da alta epidemia no seu
início, os médicos passaram a se envolver mais com os aspectos humanos e
sociais do processo de doença e a encararem de perto a inevitabilidade da
morte. Eles se voltaram para a paliação das dores dos pacientes, dando atenção
às suas necessidades físicas, psíquicas, sociais e espirituais, aprenderam a
confortar os doentes na fase inicial da vida. E foi justamente esse enfoque
assistencial, pensando “há muito que fazer pelo paciente, mesmo que não possa
curá-lo”, que foi fundamental para o alívio do sofrimento dos doentes com AIDS
nesses primeiros tempos.
Durante a
assistência aos doentes com AIDS, os cuidados paliativos desempenham um
importante papel, pois envolve não só o alívio da sintomatologia física, como
também a diminuição do sofrimento mental, social e espiritual de pacientes,
familiares e cuidadores. Hoje existem medidas terapêuticas mais eficientes no
seu tratamento, porém, muitos não têm acesso a eles, não sendo beneficiados.
Dessa forma, comprova-se que o fato de existir tratamento eficiente, não
diminui a importância dos cuidados paliativos, pois muitos necessitam de alívio
complementar de seus sintomas com o curso da doença.
A emergência
de novas necessidades na assistência aos pacientes com AIDS ocorre quase ao
mesmo tempo em que o campo de atuação dos cuidados paliativos se alarga,
contemplando não apenas o alívio dos sofrimentos dos doentes em fase terminal,
mas o alívio de sintomas e do desconforto dos doentes em qualquer fase de suas
doenças. Isso é, passa-se a considerar a aplicabilidade dos cuidados paliativos
cada vez mais cedo na evolução de doenças crônicas, muitas vezes
simultaneamente à aplicação de terapêuticas curativas (CLARK, 2002).
Os cuidados
paliativos na AIDS ainda encontram alguns agravantes ou particularidades
relacionados à doença e à população mais afetada por ela, como:
imprevisibilidade do curso (dificuldade prognóstica), coexistência de múltiplas
patologias, polimedicação e grande chance de interações medicamentosas, alta
frequência de transtornos mentais, estigma, alta prevalência de uso de drogas
ilícitas, precariedade da rede social de apoio, adultos jovens em fase terminal
e processo de morte; familiares/cuidadores também doentes.
À medida que a
doença avança, inúmeras doenças oportunas e limitações vão tomando conta do
paciente. De certa forma, a própria ação médica fica limitada, uma vez que, os
profissionais devem inserir tratamento medicamentoso àquelas doenças nas quais
o corpo apresentará respostas, ou ainda, deve-se evitar ao máximo, a realização
de procedimentos invasivos, que venham a comprometes ainda mais o paciente
debilitado. Nessa fase, muitos doentes podem apresentar déficit cognitivo,
depressão, demência etc., resultantes da ação direta do HIV no sistema nervoso
central ou de doenças oportunistas. Portanto, os doentes demandam atenção
constante de seus cuidadores.
É algo comum,
doentes com AIDS conviverem com diversas emoções dolorosas, decorrentes da
doença, como por exemplo: o sentimento de culpa, vergonha, medo da doença, medo
de não conseguir mudar o estilo de vida, arrependimento etc. esses sentimentos
precisam ser reconhecidos e trabalhados para que o paciente possa obter
conforto emocional e espiritual, melhorando seu relacionamento consigo mesmo e
com os outros.
A
confidencialidade das informações (ainda por uma questão de receio e medo ao
preconceito), o respeito claramente expresso nas relações e o desejo de cuidar
e fazer o bem, entre profissionais e familiares para com o paciente, tornam-se
fundamental no tratamento em que se tem como objetivo diminuir o sofrimento e
aumentar o conforto do ser humano.
Assistentes
sociais, psicólogos, adequadamente informados e atuando em conjunto, podem
ajudar pacientes e familiares a buscar as melhores soluções disponíveis para
essas questões, prevenindo o surgimento de reações de estresse e diminuindo
sofrimento. Os cuidados paliativos são a melhor forma de atender às necessidades
do doente sem possibilidade de cura, e complementam o tratamento curativo na
ocorrência de sintomas de difícil controle.
- Por: Johnson
Barreto.
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