domingo, 14 de junho de 2015

Cuidados paliativos na assistência a doentes com AIDS

Por muito tempo a AIDS foi uma doença que apresentou altíssima taxa de mortalidade, decorrente da ausência de um tratamento específico e medicamentos eficazes, um desconhecimento do que realmente era a doença, da rápida evolução das doenças oportunistas, que não davam tempo para a equipe médica resolver ou mesmo, amenizar os sintomas. Em decorrência desses fatores e da alta epidemia no seu início, os médicos passaram a se envolver mais com os aspectos humanos e sociais do processo de doença e a encararem de perto a inevitabilidade da morte. Eles se voltaram para a paliação das dores dos pacientes, dando atenção às suas necessidades físicas, psíquicas, sociais e espirituais, aprenderam a confortar os doentes na fase inicial da vida. E foi justamente esse enfoque assistencial, pensando “há muito que fazer pelo paciente, mesmo que não possa curá-lo”, que foi fundamental para o alívio do sofrimento dos doentes com AIDS nesses primeiros tempos. 
Durante a assistência aos doentes com AIDS, os cuidados paliativos desempenham um importante papel, pois envolve não só o alívio da sintomatologia física, como também a diminuição do sofrimento mental, social e espiritual de pacientes, familiares e cuidadores. Hoje existem medidas terapêuticas mais eficientes no seu tratamento, porém, muitos não têm acesso a eles, não sendo beneficiados. Dessa forma, comprova-se que o fato de existir tratamento eficiente, não diminui a importância dos cuidados paliativos, pois muitos necessitam de alívio complementar de seus sintomas com o curso da doença.
A emergência de novas necessidades na assistência aos pacientes com AIDS ocorre quase ao mesmo tempo em que o campo de atuação dos cuidados paliativos se alarga, contemplando não apenas o alívio dos sofrimentos dos doentes em fase terminal, mas o alívio de sintomas e do desconforto dos doentes em qualquer fase de suas doenças. Isso é, passa-se a considerar a aplicabilidade dos cuidados paliativos cada vez mais cedo na evolução de doenças crônicas, muitas vezes simultaneamente à aplicação de terapêuticas curativas (CLARK, 2002).


Os cuidados paliativos na AIDS ainda encontram alguns agravantes ou particularidades relacionados à doença e à população mais afetada por ela, como: imprevisibilidade do curso (dificuldade prognóstica), coexistência de múltiplas patologias, polimedicação e grande chance de interações medicamentosas, alta frequência de transtornos mentais, estigma, alta prevalência de uso de drogas ilícitas, precariedade da rede social de apoio, adultos jovens em fase terminal e processo de morte; familiares/cuidadores também doentes.
À medida que a doença avança, inúmeras doenças oportunas e limitações vão tomando conta do paciente. De certa forma, a própria ação médica fica limitada, uma vez que, os profissionais devem inserir tratamento medicamentoso àquelas doenças nas quais o corpo apresentará respostas, ou ainda, deve-se evitar ao máximo, a realização de procedimentos invasivos, que venham a comprometes ainda mais o paciente debilitado. Nessa fase, muitos doentes podem apresentar déficit cognitivo, depressão, demência etc., resultantes da ação direta do HIV no sistema nervoso central ou de doenças oportunistas. Portanto, os doentes demandam atenção constante de seus cuidadores.
É algo comum, doentes com AIDS conviverem com diversas emoções dolorosas, decorrentes da doença, como por exemplo: o sentimento de culpa, vergonha, medo da doença, medo de não conseguir mudar o estilo de vida, arrependimento etc. esses sentimentos precisam ser reconhecidos e trabalhados para que o paciente possa obter conforto emocional e espiritual, melhorando seu relacionamento consigo mesmo e com os outros.
A confidencialidade das informações (ainda por uma questão de receio e medo ao preconceito), o respeito claramente expresso nas relações e o desejo de cuidar e fazer o bem, entre profissionais e familiares para com o paciente, tornam-se fundamental no tratamento em que se tem como objetivo diminuir o sofrimento e aumentar o conforto do ser humano.
Assistentes sociais, psicólogos, adequadamente informados e atuando em conjunto, podem ajudar pacientes e familiares a buscar as melhores soluções disponíveis para essas questões, prevenindo o surgimento de reações de estresse e diminuindo sofrimento. Os cuidados paliativos são a melhor forma de atender às necessidades do doente sem possibilidade de cura, e complementam o tratamento curativo na ocorrência de sintomas de difícil controle.   

 Fonte: "Humanização e Cuidados Paliativos", 4ª edição: outubro de 2009; Leo Pessini, Luciana Bertachini.


- Por: Johnson Barreto.

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